É possível reverter as mudanças climáticas? Com Paulo Artaxo
Como estará a Terra daqui a 100 anos, se não mudarmos nossos padrões de consumo e estancarmos o processo de aquecimento global que já está em curso? Não muito bem, diz o pesquisador Paulo Artaxo, especialista em mudanças climáticas do Instituto de Física da USP.
A raça humana não será extinta, mas o preço a pagar será alto — muito maior do que o preço de evitar o problema agora, ressalta ele. As tecnologias necessárias para isso já existem; mas faltam vontade política e incentivos econômicos para implementar as mudanças.
Artaxo foi um dos palestrantes da oitava edição do USP Talks, que ocorreu em agosto de 2017, em parceria com o professor Frederico Brandini, do Instituto Oceanográfico da USP. Eles falaram sobre o impacto das mudanças climáticas nos diferentes ecossistemas da Terra, e discutem o que precisa ser feito para evitar o agravamento dessas mudanças.
Assista ao vídeo e confira trecho transcrito da palestra de Paulo Artaxo
Por Paulo Artaxo
Hoje, estamos enfrentando um dos maiores desafios da ciência e da sociedade: as mudanças climáticas globais. Essas mudanças afetam não apenas a estrutura da nossa sociedade, mas também a organização econômica do planeta. Ao longo dos próximos cem anos, é crucial compreender qual será a nossa interação com o planeta e quais são os possíveis cenários futuros.
Atualmente, enfrentamos um sistema socioeconômico caracterizado pelo alto consumo de bens materiais. No entanto, esse padrão de consumo é insustentável, especialmente considerando que a população mundial está em constante crescimento. Com o aumento da população, surgem questões éticas e morais relacionadas à exploração de recursos naturais e à preservação da biodiversidade.
Além disso, o sistema de produção de energia e bens de consumo está liberando grandes quantidades de gases de efeito estufa na atmosfera, levando a um aumento na temperatura média do planeta. Esse aumento de temperatura pode causar disfunções nos ecossistemas, afetando a disponibilidade de água, a produção de alimentos e outros serviços ecossistêmicos essenciais.
Nossa dependência de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás natural, resultou em um aumento significativo na emissão de gases de efeito estufa. Como resultado, a temperatura média do planeta já aumentou em cerca de 1 grau. Esse aumento de temperatura tem impactos significativos em ecossistemas como a Amazônia e a Mata Atlântica, afetando diretamente nossa qualidade de vida e a de outras espécies que habitam o planeta.
Apesar de estarmos enfrentando desafios significativos, é possível adotar medidas para enfrentar as mudanças climáticas. O Acordo de Paris, por exemplo, propõe a redução das emissões de gases de efeito estufa e o limite do aumento da temperatura em 2 graus Celsius. No entanto, mesmo com essas medidas, é fundamental questionar o modelo socioeconômico baseado no consumo desenfreado e no lucro a curto prazo. É necessário repensar a governança e o sucesso de um país com base na felicidade e no bem-estar das pessoas.
Para evitar cenários catastróficos de aumento de temperatura, é essencial diminuir o consumo de energia e adotar tecnologias mais eficientes. No entanto, isso requer políticas públicas claras e um novo sistema de governança planetária, que considere as necessidades de toda a população, independentemente das fronteiras nacionais.
Em resumo, a mudança climática é um desafio global que exige uma ação urgente e coletiva. Devemos reconsiderar nosso modelo de consumo e produção, adotar tecnologias mais sustentáveis e repensar a forma como governamos nosso planeta. Se queremos garantir um futuro sustentável para as próximas gerações, é fundamental agir agora e construir um sistema socioeconômico que promova a equidade, a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente. O desafio é grande, mas é possível enfrentá-lo com determinação e cooperação global.
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